Escritora portuguesa, conhecida por sua melancolia cômica, estava internada na capital Lisboa e reuniu sua obra em um livro lançado neste ano, que inclui poemas inéditos
Filha de uma bióloga e de um professor, Adília Lopes nasceu na capital portuguesa, no dia 20 de abril de 1960 e era o pseudônimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira. Sua estreia literária aconteceu aos 24 anos, quando participou da primeira edição do Anuário de Poetas Não Publicados, da editora Assírio & Alvim, que também publicou algumas de suas obras mais recentes.

A escritora começou a escrever poesia pouco tempo antes enquanto cursava Física na Universidade de Lisboa, mas decidiu se dedicar apenas à literatura pouco antes de concluir os estudos. Seu interesse inicial pela ciência dos fenômenos naturais influenciou sua obra, com poemas marcados também por uma mistura do vocabulário da mecânica quântica com referências a autores clássicos. Com esse estilo único, a poeta criou um imaginário próprio com lembrança de cenas do cotidiano, que vão das mulheres de sua família às bonecas de louça — até mesmo as “osgas” (largatixas, no português europeu) eram citadas em sua obra.
Depois, ela ingressou na licenciatura de Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com especialização em Ciências Documentais. Neste período, publicou o seu primeiro livro de poesia, “Um jogo bastante perigoso” — que ganhou uma versão brasileira em 2018 com a Moinho, que lançou também “O poeta de Pondichéry”. No país, a autora teve ainda publicada “Antologia“ pela antiga Cosac Naify.

Neste ano, Adília Lopes havia comemorado os 40 anos de sua carreira literária com uma obra marcada ainda por títulos como “Manhã”, “Irmã Batata”, “Bandolim”, “Caras baratas”, “Estar em casa”, “Dias e dias” e “Choupos”. Além de poeta, a autora era tradutora e cronista, tendo colaborado para jornais e revistas.
Ao lamentar a morte da poeta, a ministra da Cultura portuguesa, Dalila Rodrigues, afirmou que ela se tornou “uma das mais originais e inconfundíveis vozes da poesia portuguesa”. “A partir da dimensão afetiva que atravessa os seus versos, soube inovar através de uma exploração linguística profundamente original, sendo, por isso, reconhecida e acarinhada pelos seus leitores”, disse.
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Valter Hugo Mãe, um dos principais nomes da literatura portuguesa contemporânea, também recordou a autora, destacando seu humor e lamentando a sua ausência. “Que triste saber que não virás mais à rua, não poderás rir de tudo, como tanto esperava que acontecesse. Obrigado por tua poesia, por tua fé, por tua genuinidade”, escreveu em uma publicação no Instagram.
O escritor brasileiro Marcelino Freire, apresentado à obra de Adília pelo próprio Valter Hugo, também expressou sua admiração pela escritora. Em uma postagem na rede sociail afirmou que, mesmo após sua morte, “a sua poesia vive”. “Nas minhas oficinas, por exemplo, há tempo celebramos: ela e as suas gatas de solteirona, ela e as suas caras baratas. Continuaremos com certeza dizendo suas palavras. Sempre que a poesia precise de sua presença viva.”